Tiras da Civil deflagraram nas primeiras horas desta terça-feira, dia 16, a operação Arcanum e prenderam o mototaxista e líder religioso A.B.C, de 46 anos, suspeito de assassinar Ana Paula Oliveira da Silva, de 23 anos. O corpo foi encontrado no último dia 7, nu e preso em galhos à margem do rio Cauamé, em Boa Vista.
Inicialmente tratada como morte por afogamento, a investigação revelou, a partir de um trabalho minucioso e técnico, que a jovem foi vítima de feminicídio.
A ação foi coordenada pela DGH (Delegacia Geral de Homicídios), DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), com o apoio do DEINT (Departamento de Inteligência da SESP (Secretaria de Segurança Pública), do Departamento de Inteligência da PM (Polícia Militar de Roraima) e da GCM (Guarda Civil Municipal).
A Arcanum teve como objetivo cumprir mandados de busca em uma casa no bairro Pedra Pintada, na zona Oeste da Capital e de prisão preventiva do fuleiro.
As equipes policiais estiveram inicialmente na casa, onde o acusado não foi encontrado. Em seguida, fizeram diligências para localizá-lo nos bairros Nova Canãa, Equatorial, Cambará, Vila Jardim e, finalmente, no Sílvio Leite, onde ele foi encontrado em uma rua.
De acordo com o delegado da DGH, Carlos Henrique, o caso representa uma das mais significativas reviravoltas investigativas do ano.
“O que inicialmente aparentava ser uma morte por afogamento passou a ser tratado com extrema cautela pela equipe. O trabalho integrado, a análise de imagens, o monitoramento de deslocamentos, as oitivas e a leitura detalhada da cena do crime foram fundamentais para demonstrar que se tratava de um feminicídio. A Polícia Civil não trabalha com suposições, trabalha com fatos, técnica e persistência”, destacou.
As investigações, segundo o delegado, apontam que A.B.C conheceu a vítima em um bar e que ambos seguiram juntos na motocicleta do investigado até a região do rio Cauamé. Todo o trajeto foi registrado por radares e câmeras do sistema de monitoramento urbano, que flagraram o suspeito retornando sozinho, cerca de uma hora depois, carregando o capacete utilizado pela vítima. O corpo dela foi localizado no dia seguinte.
Durante as diligências no local, equipes policiais encontraram roupas e pertences da vítima, reforçando a tese de que o crime ocorreu nas proximidades da margem do rio. A causa da morte foi confirmada como asfixia por afogamento, em contexto de violência. O corpo da mulher foi removido no dia 7, mas somente identificado no dia 12.
“Trata-se de fato de um feminicídio, onde foi constatado que a vítima possuía lesões graves na face e no crânio. Era uma vítima que tinha um perfil de vulnerabilidade. Ela estava inserida em um contexto de vulnerabilidade social, econômica, psicológica e tudo leva a crer que isso foi determinante para essa atuação. Hoje a Polícia Civil dá um passo importante na elucidação do caso, já com o principal suspeito custodiado. As investigações prosseguem com algumas diligências ainda pendentes, mas tudo leva a crer que o caso está sendo solucionado”, ressaltou o delegado.
A delegada titular da DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Clarissa Pinheiro, explicou que o avanço da investigação só foi possível graças à leitura sensível do contexto da vítima e ao aprofundamento técnico do caso, realizada pelas equipes policiais tanto da PCRR, quanto do DEINT.
“Desde o início, a investigação buscou compreender quem era Ana Paula e o ambiente em que ela estava inserida. Com o avanço das apurações, ficou evidente que ela vivia em situação de vulnerabilidade social. O que parecia um afogamento acidental revelou-se um crime de extrema gravidade, caracterizado como feminicídio”, afirmou.
A delegada informou também que o investigado já tem registros de Boletim de Ocorrência, registrados pela ex-mulher por ameaças de morte no contexto da violência doméstica.
As investigações também revelaram um perfil contraditório do investigado, que se apresentava publicamente como líder religioso, realizava pregações, cantava em cultos e conduzia batismos religiosos, inclusive na região do rio Cauamé, local que conhecia profundamente e onde, segundo os delegados, pode ter ocorrido a cena do crime.
Paralelamente, segundo os elementos colhidos, A.B.C frequentava ambientes de consumo de bebida alcoólica, prostituição e contextos de extrema vulnerabilidade social, mantendo uma conduta incompatível com a imagem que projetava publicamente.
Após ser preso, A.B.C. foi conduzido à sede da DGH, onde foi qualificado e interrogado. Ele será apresentado em audiência de Custódia nesta quarta-feira, dia 17. As investigações continuam para o completo esclarecimento do crime.
ARCANUM – O nome da operação tem origem no latim arcanus, que significa “segredo” ou “mistério profundo”, e simboliza o trabalho investigativo que revelou, por meio de técnica, inteligência e persistência, a verdade oculta por trás de uma morte inicialmente tratada como acidental.