Uiramutã, no extremo Norte de Roraima, completa hoje, dia 17 de outubro, 29 anos de criação. O município encanta com sua rica cultura tradicional e com paisagens naturais de tirar o fôlego, com cachoeiras, serras, florestas e parque nacional.
O município foi instituído pelas leis nº 96, 97, 98, 99 e 100, em 17 de outubro de 1995, sendo desmembrado de outras localidades para formar o Estado de Roraima. Sua economia é modesta, com destaque para a agricultura, agropecuária e turismo.
Mais setentrional do Brasil, Uiramutã é atrativo principalmente por sua exuberante beleza natural. O município abriga grandes reservas indígenas, além de um Parque Nacional, fazendo parte da tríplice fronteira com a Guiana e Venezuela.
Uiramutã ocupa o topo da lista dos municípios com a população mais jovem e indígena do país: metade da população tem até 15 anos. Os dados são do Censo de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Localizado na tríplice fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana e com uma área territorial de 8.113,598 km², Uiramutã é o 10º mais populoso entre os 15 municípios de Roraima, com população estimada em 13.751 habitantes.
Além disso, o município é proporcionalmente o mais indígena do país. Ao todo, 96,60% da população do Uiramutã se autodeclara indígena, ou seja, dos 13.751 habitantes, 13.283 habitantes são indígenas.
Desse número, 2.541 são crianças com idades entre 0 e 4 anos, 2.292 moradores têm de 5 a 9 anos e 1.942 pessoas tem idades de 10 a 14 anos. As pessoas mais velhas do município — apenas duas — tem 100 anos, segundo o IBGE. No recorte por sexo, a população masculina representa 51,3% da população do município. Ela é composta por 7.068 homens e 6.683 mulheres.
Ao examinar os municípios com a maior incidência proporcional de cidadãos indígenas em relação à totalidade de residentes, temos dois municípios de Roraima entre os principais do país, sendo Uiramutã o primeiro do ranking nacional, onde 96,60% de seus habitantes são identificados como indígenas, e Normandia em quinto lugar, com 88,94%.
Línguas indígenas cooficializadas
A Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) aprovou este ano o Projeto de Lei (PL) nº 310/23, que reconhece as 12 línguas indígenas faladas em Roraima como patrimônio cultural imaterial. A nova legislação também cooficializa essas línguas e institui a Política Estadual de Proteção das Línguas Indígenas.
O PL é de autoria do deputado estadual e presidente da Casa, Soldado Sampaio (Republicanos). Conforme o autor, o projeto ressalta a importância do reconhecimento e o respeito à pluralidade étnico-cultural dos povos indígenas. Das línguas indígenas de Roraima, duas se sobressaem pelo número de falantes ou pela presença em diferentes espaços: o macuxi e o wapixana.
Macuxi é a mais populosa das línguas caribenhas, sendo falada por 30 mil pessoas no Brasil e na Guiana. Já a língua Wapichana é falada com mais frequência nos vales dos rios Uraricoera e Tacutu, ao lado dos Macuxi, os quais habitam também a região de serras mais a leste de Roraima.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou 13 povos indígenas em 32 territórios localizados em Roraima. A Terra Indígena Raposa Serra do Sol é onde vivem os povos Macuxi, Taurepang, Patamona, Ingaricó e Wapichana.
Uiramutã é administrado pelo prefeito Benísio Roberto de Souza (REDE), reeleito este ano para mais um mandato. O vice-prefeito é o Professor Jeremias Souza Lima. O atual presidente da Câmara Municipal é o vereador Max Lobão (Republicanos).
Potencial turístico
Distante a 315 quilômetros de Boa Vista pela BR-174, Uiramutã é um potencial turístico ainda pouco explorado na exuberante região das serras, ao Norte de Roraima. Repleto de belezas naturais, o município é um dos poucos no Estado que ainda mantém a cultura indígena tradicional.
O município é repleto de cachoeiras, corredeiras, serras, trilhas e sítios arqueológicos, ambientes propícios para a visitação pública, sem oferecer riscos ao meio ambiente ou aos povos tradicionais.
Para melhor atender os visitantes, a prefeitura do Uiramutã já trabalha na implantação de um Centro de Atendimento ao Turista, onde os visitantes poderão receber orientações sobre as visitações permitidas, pratos típicos da culinária regional e outras informações a respeito da cultura dos povos da região.
Infraestrutura
Na sede do Uiramutã, o turista encontra hotéis, pousadas, restaurantes, açougue, farmácias, agências bancárias, loteria e várias lojas. Atualmente, o município dispõe de 280 leitos distribuídos em hotéis, pousadas e áreas de camping para os mais aventureiros.
O visitante também encontra posto de combustível, hospitais, destacamento da PM e outras repartições públicas. Nos hotéis e pousadas, a diária fica entre R$ 150 e R$ 180. Na área gastronômica há restaurante que cobra comida a quilo e outros que vendem o prato feito por até R$ 25.
Os visitantes podem alugar ou locar picapes para se deslocarem até os pontos turísticos permitidos no município. O preço do aluguel de carros, já com motorista da região, depende da distância do local a ser visitado e do tempo de locação.
Principais pontos turísticos
Uiramutã é formado por serras, rios e lavrados. A natureza é exuberante e os pontos turísticos estão por todo canto. No roteiro da aventura, a região indígena da comunidade do Flexal, distante a 26 Km da sede do município, é uma das mais exóticas. Já há 5 Km da sede, na mesma estrada que leva à comunidade, o turista já pode se refrescar nas corredeiras do Paiuá I e II.
O Paiuá I, de fácil acesso, fica à beira de uma estrada de piçarra que leva até o Flexal. No local há uma palhoça com espaço para redes e área de churrasqueira. Mais à frente, o turista encontra a cachoeira do Trovão, nome que recebeu por causa do barulho que a queda de água faz. O percurso é feito de carro, mas depois é preciso seguir a pé em uma trilha. A caminhada dura uma hora, mas vale a pena.
Mais adiante, o visitante chega às cachoeiras do Urucá e Urucazinho, ainda na mesma estrada, a 13 Km da sede. O nome Urucá vem da língua macuxi e significa igarapé do ouro. A Urucá é uma das mais belas cachoeiras do município, pois suas águas possuem um tom incrível de verde esmeralda.
A cachoeira Sete Quedas está localizada na comunidade indígena Urucá, a 10 Km de distância da sede. O nome foi dado por causa do número de quedas que a cachoeira possui. É um ótimo lugar para quem procura tranquilidade e harmonia com a natureza.
Também na mesma região, na comunidade indígena Nova Vida, distante a 18 Km da sede, fica o exuberante vale dos cristais. Lá, os indígenas desenvolvem projetos ambientais e produzem “beiju” (feito com a farinha de mandioca). Eles ainda assam peixes e destilam o Bajá, também conhecido como Pajuaru, que é uma bebida indígena tradicional.
O turista também pode visitar a serra do Cruzeiro, que fica a 1 Km da comunidade indígena Uiramutã, perto da sede do município. Do alto é possível ver a área urbana da cidade. É um lugar perfeito para quem gosta de apreciar o nascer e o pôr-do-sol. A serra também tem um simbolismo religioso. Lá, moradores acedem velas, rezam e fazem orações.
Panelas de barro
Na comunidade indígena do Flexal, a 26 quilômetros da sede do Uiramutã, as indígenas mantêm uma cultura há séculos, produzindo panelas de barro. Elas moldam e transformam argila em arte. O artesanato também é vendido aos turistas.
A produção da panela de barro já faz parte da tradição indígena dos moradores do Flexal. Secular, a arte Macuxi também serve para impulsionar a economia da comunidade. O preço da panela varia de acordo com o tamanho.
Primeiro, os indígenas vão retirar o barro distante da comunidade. Depois, a matéria prima é seca e peneirada. O material, então, é misturado à água e colocado para “descansar” por pelo menos duas horas. Após isso, o barro passa a ser modelado pelas artesãs.
Todo o trabalho é feito à mão. No final, a panela é polida com pedra e colocada no fogo para assar e endurecer. Em seguida, as panelas ficam prontas para serem utilizadas e vendidas. Cada panela precisa de argila específica, caso contrário, o artesanato não dá certo.
Clima
Uiramutã tem um clima tropical de savana, podendo se tornar subtropical úmido com inverno seco nas partes mais altas da cidade, como o Monte Roraima, que costuma apresentar temperaturas entre 20 e 22 °C.
Economia
Apesar do município estar localizado em uma região tradicionalmente rica em ouro e diamante, as atividades econômicas são limitadas devido à sua localização na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Com isso, Uiramutã é o município brasileiro que mais depende de recursos do governo: 80% de sua receita é proveniente da administração pública, incluindo previdência social e programas sociais como o Bolsa Família.
No entanto, Uiramutã apresenta grande potencial para a pecuária, agricultura e piscicultura. A proximidade com o Parque Nacional do Monte Roraima também atrai o turismo, um outro importante setor da economia do município.