Terminou ontem, dia 26, o 1° Ciclo de Desenvolvimento de Professores do Projeto OMUNGA no Monte Roraima, realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura do Uiramutã. As oficinas ocorreram anteontem e ontem na escola municipal Antônio Rodrigues, na sede do município, ao Norte de Roraima.
A OMUNGA é um empreendimento social que desenvolve vários projetos no Brasil e em outros países. A proposta visa a produção de livros escritos pelos próprios povos originários. A OMUNGA também distribui livros e cria bibliotecas em comunidades de difícil acesso em todo País.
A pedagoga Marina Pedrosa foi uma das “oficineiras” da OMUNGA. Ela contou que é a segunda vez que participa do projeto, no caso a OMUNGA no Monte Roraima. O primeiro foi no também longínquo município de Atalaia do Norte, no meio da floresta amazônica.
Na oficina ministrada por Marina, os alunos/professores debateram como a Literatura Infantil acontece nas escolas do Uiramutã. Ela trouxe livros indígenas de outras regiões brasileiras para fazer comparações e assim conectar os saberes. Marina ministrou três oficinas a 150 alunos/professores.
“Avaliação excelente. Os participantes se envolveram muito durante as discussões e produções dos materiais. Estou encantada com a cultura riquíssima deste povo. E nossa proposta é fortalecer ainda mais esta cultura”, ressaltou a oficineira.
Professora aposentada e administradora escolar, Vera Lúcia Cavalheiro, do time da OMUNGA, também ministrou oficina, abordando o tema: “Valorizando a leitura, cultura e literatura do povo Ingaricó”. Muito carismática, Vera disse que é a primeira vez que participa de uma expedição como essa na área da Educação.
“Estou encantada por voltar à sala de aula depois de 11 anos para formar professores. Este povo é muito unido, educado e disciplinado. É uma experiência maravilhosa o que estou passando e aprendendo aqui. Só tenho a agradecer”, frisou Vera.
“Autores da nossa própria história”, diz aluno/professor
O aluno/professor Alex dos Santos, que é coordenador pedagógico e professor na comunidade indígena Caraparu I, no Uiramutã, falou da importância da parceria entre a OMUNGA e a Educação municipal.
“É muito importante porque a OMUNGA chegou para contextualizar o conhecimento daqui e isso nos fez sonhar com uma perspectiva de futuro bem melhor. A partir da produção dos livros regionais, poderemos ser autores da nossa própria história”, observou Alex.
RELAÇÃO DE CONFIANÇA
Pascoal diz que ciclo foi o 1° passo
Empreendedor social, fundador e presidente da OMUNGA, Roberto Pascoal fez sua avaliação ao final do ciclo das oficinas. Ele disse que iniciar uma relação de confiança com um povo tão singular, tão único, com um município que tem mais de 90% de sua população indígena, é muito delicado, por isso se torna um grande desafio.
“É um desafio delicado porque este povo é muito visado e marcado, por isso é natural que, quando um homem branco chega no território, leva um tempo para se estabelecer uma relação de confiança. Mas acredito que demos um importante passo a partir deste primeiro ciclo”, ressaltou.
Pascoal disse ainda acreditar que a forma respeitosa, considerando muito os ancestrais, os anciãos e o saber comunitário, foi um passo significativo. Mas a jornada é longa, segundo ele, pois a OMUNGA tem dois anos para a execução do projeto no Uiramutã, dividido em seis ciclos de ações de desenvolvimento para os professores.
“Teremos a distribuição e produção de livros, um fotográfico, e a implantação da primeira biblioteca. Então, tem muita coisa para acontecer nesses dois anos. A jornada é longa, mas considerando o empenho da Secretaria de Educação Municipal, representada pelo secretário Damázio, e toda sua equipe, tuxauas e professores que participam do projeto, tudo isso é um forte indício que o primeiro passo foi dado com muito sucesso”, pontuou Pascoal.
Damázio diz que parceria com OMUNGA é importante
O secretário municipal de Educação, Damázio Gomes, falou da importância da parceria com a OMUNGA. Ele ressaltou que os livros didáticos produzidos pelos professores daqui vão possibilitar que os alunos do Uiramutã estudem a sua própria história.
Damázio lembrou que os livros didáticos e outras produções feitas durante os ciclos do projeto OMUNGA no Monte Roraima serão traduzidos para as três línguas dos povos indígenas do Uiramutã: Macuxi, Patamona e Ingaricó.
“Com certeza será um avanço para a nossa Educação. Esta parceria está dando certo e isso é muito bom para nós. Portanto, agradeço a todos da OMUNGA e, claro, ao nosso prefeito, Tuxaua Benísio, que não mede esforços para melhorar a cada dia nossa Educação”, finalizou Damázio.
Ao final do ciclo, oficineiras e convidados escutaram professores/alunos cantarem músicas tradicionais dos povos indígenas do Uiramutã.
